Carris 576 – Carris Remodelado


Streetcar operated by Carris seen at Largo da Sé, Lisboa, in June 2012. This streetcar with fleet number 576 is a Carris Remodelado, included in a series of 45 units placed in service in 1995–96. It features a historic wooden body combined with a modern "truck". With an overall length of 27.5 ft, it can accommodate 20 seated passengers and 38 standees (20+38+1). Reversible seats. Unidirectional operation. Four doors, only those on the right are used in service, no steps on the left. Front entrance. Fed via Schunk pantograph or trolley pole by 600 V DC, this streetcar uses two 50 kW (68 hp) Škoda ALS 2840 IN traction motors. It has two Kiepe controllers, a NF 51 at the front and a RSH 201 at the rear for moving the car backwards. Gauge is 2 ft 11 7⁄16 in. Top speed is 31 mph. Everyday challenges include operation in narrow streets with curve radii of less than 32.8 ft and ascents of up to 14.5%.

Established in 1872, Carris, or Companhia Carris de Ferro de Lisboa, operates regular services, regular specialized services and occasional services with buses, streetcars and funiculars. Carris also operates the Santa Justa elevator in downtown Lisboa, opened to public service in 1907. In 2020, the streetcar system has 30 miles and six routes. Public streetcar service starts in August 1901 on the Cais do Sodré–Algés (then, Ribamar) section. In 2020, the fleet consists of 10 Siemens/Duewag GT6-70N/D ¹ light rail vehicles, numbered 501–510, and 38 Carris Remodelado streetcars ². This series originally comprises 45 units, numbered 541–585, but some are later adapted for sightseeing services and operated by Carristur. These units are renumbered 5 (583), 6 (585), 7 (546), 8 (584), and 9 (570) , equipped with old-style lifeguards, locally known as "grelhas", and painted in a red and white scheme, in contrast with the traditional yellow and white scheme, from which streetcars in Lisboa earn the nickname "Amarelos" (yellow ones).

In 1901, Carris starts its public streetcar service with open-sided cars of the 203–282 series, delivered by J. G. Brill, with Brill 21E trucks. In 1932–37, most of these cars are rehabilitated with closed bodies designed and built by Carris. In the early 1990s, to overcome the limitations of a very specialized and aging fleet, the Ferrostaal, Kiepe Elektrik and AEG Schienenfahrzeuge consortium offers a solution that combines existing bodies, mostly from this series, with modern equipment, including a new AEG truck. First unit, 270, is sent to Germany in 1992. After rehabilitation is completed, it returns to Portugal in 1994 and becomes car 541. The following units are completed in Portugal by Carris and placed in service in 1995–96. All technical and promotional documents I know identify these units simply as Remodelados (remodeled), or by equivalent terms or expressions. Current is picked up by the Schunk pantograph on routes 15E, 18E and 25E, or by the trolley pole on routes 12E, 24E and 28E. Here, we see this Carris Remodelado using the trolley pole on regular service 28, heading to Graça.

As a note of interest, in Portugal, streetcars and light rail vehicles are referred to as eléctricos, an abbreviation from carros eléctricos, literally electric cars. In Brazil, streetcars are referred to as bondes, presumably derived from the English financial term bond.


Eléctrico operado pela Carris visto no Largo da Sé, Lisboa, em Junho de 2012. Este eléctrico com o número de frota 576 é um Carris Remodelado, incluído numa série de 45 unidades colocadas em serviço em 1995–96. Apresenta uma caixa histórica em madeira combinada com um "truck" moderno. Com um comprimento total de 8,39 m, pode acomodar 20 passageiros sentados e 38 de pé (20+38+1). Assentos reversíveis. Operação unidireccional. Quatro portas, somente as da direita são usadas em serviço, sem degraus à esquerda. Entrada pela frente. Alimentado através de pantógrafo Schunk ou vara de "trolley" por 600 V DC, este eléctrico utiliza dois motores de tracção Škoda ALS 2840 IN de 50 kW (68 hp). Dispõe de dois controladores Kiepe, um NF 51 à frente e um RSH 201 à retaguarda para recuar o eléctrico. A disposição do rodado é Bo. A bitola é de 900 mm. A velocidade máxima é de 50 km/h. Os desafios diários incluem a operação em ruas estreitas com raios de curva inferiores a 10 m subidas de até 14,5%.

Estabelecida em 1872, a Carris, ou Companhia Carris de Ferro de Lisboa, opera serviços regulares, serviços regulares especializados, e serviços ocasionais com autocarros, eléctricos, e funiculares. A Carris opera ainda o elevador de Santa Justa na baixa de Lisboa, aberto ao serviço público em 1907. Em 2020, o sistema de eléctricos possui 48 km e seis rotas. O serviço público de eléctricos inicia-se em Agosto de 1901 no troço Cais do Sodré–Algés (então, Ribamar). Em 2020, a frota é composta por 10 eléctricos Siemens-Duewag GT6-70N/D ¹, numerados 501–510, e 38 eléctricos Carris Remodelado ². Esta série compreende originalmente 45 unidades, numeradas 541–585, mas algumas são mais tarde adaptadas para serviços turísticos panorâmicos e operadas pela Carristur. Estas unidades são renumeradas 5 (583), 6 (585), 7 (546), 8 (584), e 9 (570), equipadas com salva-vidas de estilo antigo, localmente conhecidos por "grelhas", e pintadas num esquema em vermelho e branco, em contraste com o esquema tradicional em amarelo e branco, a partir do qual os eléctricos em Lisboa ganham o apelido de "Amarelos".

Em 1901, a Carris inicia seu serviço público de eléctricos com carros abertos da série 203–282, entregues por J. G. Brill , com "trucks" Brill 21E. Em 1932–37, a maioria desses carros é reabilitada com caixas fechadas, projectadas e construídas pela Carris. No início dos anos 90, para superar as limitações de uma frota muito especializada e envelhecida, o consórcio Ferrostaal, Kiepe Elektrik e AEG Schienenfahrzeuge, oferece uma solução que combina caixas existentes, principalmente desta série, com equipamentos modernos, incluindo um novo "truck" AEG. A primeira unidade, 270, é enviada para a Alemanha em 1992. Concluída a reabilitação, volta a Portugal em 1994 e torna-se o eléctrico 541. As seguintes unidades são completadas em Portugal pela Carris e colocadas em serviço em 1995–96. Todos os documentos técnicos e promocionais que conheço identificam estas unidades simplesmente como Remodelados, ou por meio de termos ou expressões equivalentes. A corrente é captada pelo pantógrafo Schunk nas rotas 15E, 18E e 25E, ou pela vara de "trolley"nas rotas 12E, 24E e 28E. Aqui, vemos este Carris Remodelado usando a vara de "trolley"no serviço regular 28, a caminho da Graça.  


¹ Built under license in Spain by CAF (501–506) and in Portugal by SOREFAME (507–510), derived from the 3801–3825 series, operated since 1994 by Ferrocarrils de la Generalitat Valenciana. | Fabricados sob licença em Espanha pela CAF (501–506) e em Portugal pela SOREFAME (507–510), derivados da série 3801–3825 operada desde 1994 pelos Ferrocarrils de la Generalitat Valenciana.
² And a few historic cars, in sporadic use. | E alguns carros históricos, em uso esporádico.


Carris

Established in 1872 and based in Lisboa, Companhia Carris de Ferro de Lisboa, whose name is usually shortened to Carris, operates regular services, regular specialized services and occasional services. ●

541–582 | First five units in the series

Fleet Number

Registration

Year

Built

541 (from 270)

2-axle car

1901

J. G. Brill

Open car, Brill truck

 

Rb. ca. 1932–37

Carris

Closed car, Brill truck

 

Rb. 1995

Consórcio Carris

Closed car, AEG truck

542 (from 241)

 

a/a

543 (from 230)

 

a/a

544 (from 236)

 

a/a

545 (from 277)

 

a/a




Some enthusiasts call these streetcars, the "hill climbers" – not without a reason. On a fine August morning in 2015, well loaded Carris 567 accelerates uphill on the steep Rua do Limoeiro, on its way to Graça, making good use of its two 50 kW Škoda ALS 2840 IN traction motors. In my childhood, during the seventies, this was the territory of the 701–735-series on route 28, Martim Moniz–Prazeres, and the 403–506- and 283–322-series on circulator routes 10 and 11, Graça (Circulação). And, naturally, territory of the unforgettable AEC Regal Mark III buses on route 37, Rossio–Castelo. ●

Alguns entusiastas chamam a estes eléctricos, os "escaladores de colinas" – não sem motivo. Numa bela manhã de Agosto em 2015, o Carris 567, bem carregado, acelera ladeira acima na inclinada Rua do Limoeiro, a caminho da Graça, fazendo bom uso dos seus dois motores de tracção Škoda ALS 2840 IN de 50 kW. Na minha infância, nos anos setenta, este era o território das séries 701–735 na carreira 28, Martim Moniz–Prazeres, e das séries 403–506 e 282–323 nas carreiras circulares 10 e 11, Graça (Circulação). E, naturalmente, dos inesquecíveis autocarros AEC Regal Mark III na carreira 37, Rossio–Castelo. ●



Carris 558 passes through Largo da Estrela on its way to Prazeres in May 2013. In spite of having four doors, these are unidirectional streetcars, always serving stops on their right side, hence the lack of steps on the left side. Another clue to their unidirectional use is the peculiar weathering pattern on the roof. Here, the left front window is open for ventilation purposes. Presumably, this body came from car 243, keeping its eight ventilators – the number varies from car to car. ●

O Carris 558 passa pelo Largo da Estrela a caminho dos Prazeres em Maio de 2013. Apesar de terem quatro portas, estes são elétricos unidireccionais, servindo sempre paragens à sua direita, daí a ausência de degraus no lado esquerdo. Outra pista para o seu uso unidirecional é o peculiar padrão de envelhecimento sobre o tejadilho. Aqui, a janela dianteira do lado esquerdo encontra-se aberta para fins de ventilação. Presumivelmente, esta caixa veio do carro 243, mantendo os seus oito ventiladores – o número varia de carro para carro. ●


Route 28, a regular passenger service

Despite being a regular passenger service, several tourist promoters present route 28 as an attraction in Lisboa which, due to the massive influx of visitors and limited specialized fleet, has made it practically impossible for the local population to use in recent years on almost its entire route and throughout almost the entire day. Local population faced with Babelian waiting lines, especially at the Martim Moniz terminus, and cars bursting at the seams, were eventually forced to find alternatives, on a route with no alternatives. Ironically, cars intended for the regular specialized tourist service "Hills Tramcar Tour", identified by the red paint scheme and which cover a more complete route of the hills network, are normally ignored by visitors, who opt for the regular service cars, painted yellow, to benefit from the much cheaper ticket. Alienated from its local users, who are also becoming less and less numerous due to the fierce gentrification of Lisboa's historic areas, route 28, whose origins date back to 1914, has become a mere carousel in a disconcerting amusement park, very far from the function for which it was created and which it fulfilled exemplarily over almost ninety years. 

Apesar de ser um serviço regular de passageiros, diversos promotores turísticos apresentam a carreira 28 como atracção de Lisboa o que, pela massiva afluência de visitantes e frota especializada limitada, a tornou nos últimos anos praticamente impossível de utilizar pela população local em quase todo seu percurso e ao longo de quase todo o dia. População local que perante filas de espera babelianas, sobretudo no término do Martim Moniz, e eléctricos a rebentar pelas costuras, foi eventualmente forçada a encontrar alternativas, num percurso sem alternativas. Ironicamente, os eléctricos destinados ao serviço regular especializado turístico "Hills Tramcar Tour", identificados pela pintura vermelha e que fazem um percurso mais completo da rede das colinas, são normalmente ignorados pelos visitantes, que optam pelos eléctricos do serviço regular, de pintura amarela, para beneficiar do bilhete bastante mais barato. Alienada dos seus utilizadores locais, também eles cada vez menos numerosos pela feroz gentrificação das zonas históricas de Lisboa, a carreira 28, cuja origem recua a 1914, é hoje o mero carrossel num desconcertante parque de diversões, muito longe da função para a qual foi criada e que cumpriu exemplarmente ao longo de quase noventa anos. 





Car 566 at Largo da Sé, Lisboa, in December 2012.


A carreira 28

A carreira 28 foi ao longo de anos uma paixão, desde o tempo em que a utilizava no caminho para a escola. Nela, conhecia os detalhes de cada eléctrico, as suas virtudes e os seus defeitos – os cheiros e os rangeres, os raspões e as amolgadelas. Conhecia os guarda-freios e os cobradores, os passageiros habituais e as suas histórias. Conhecia ao longo do percurso cada sulco indiscreto de rodas no pavimento e onde as roldanas teimavam em saltar do cabo. Por vezes, em noites quentes de Verão, saia de casa depois do jantar para ir nela, na carreira 28, assim, por entre vielas onde se ouvia ao longe vozes roucas, traçadas pela vida, a cantar o fado à porta de tascas com cheiro a vinho e a queijo, a jaquinzinhos fritos e a pastéis de bacalhau, com serradura espalhada pelo chão e talvez um último Vicente, de asa aberta e bico atrevido, a desnortear composturas.

Ia nela, na carreira 28, até à Estrela, ou mudava pelo caminho para a carreira 29 ou 30, se visse passar por mim um "caixote" ¹ no Largo do Camões. Se chegasse à Estrela, mudava para a carreira 26 e subia à Rua de Buenos Aires. Depois, vinha por ali abaixo ao lado do guarda-freio, vertiginosamente, até Santos, rumo ao Terreiro do Paço acariciado pelo Tejo e a cheirar a maresia. Noutras vezes, pela manhã, aí pelas sete e meia, quando o eléctrico arrancava da Rua da Conceição a rebentar pelas costuras com gente a caminho do emprego e das escolas, agarrava-me a onde podia e subia a Calçada de São Francisco à pendura, a desafiar a gravidade e o bom senso para não perder a primeira aula. 

Durante anos, fotografei, como se fotografam os membros de uma família, cada eléctrico que nela, na carreira 28, prestava serviço. Mas com a chegada do novo milénio, a carreira foi promovida a atracção turística e as coisas começaram a mudar, a descaracterizar-se, a perder-se. Hoje, vejo passar os eléctricos da carreira 28 cheios de gente debruçada nas janelas com o telemóvel na mão a filmar a Lisboa antiga que lhes foi habilmente vendida – graciosa, cosmopolita, gourmet e limpa de lisboetas. Onde está a minha gente nestes eléctricos? Os miúdos a caminho da escola, os pais a caminho do emprego, os avós ou as grávidas a caminho do médico? As senhoras a regressar da baixa, com os sacos de compra ajeitados ao colo. O que te aconteceu, Lisboa? Porque traíste os que sempre te amaram?

Por instantes, procuro alguma cumplicidade, uma empatia com esta gente estranha que se aformiga nas ruas, procuro esboçar um sorriso, qualquer coisa, mas não consigo. Hoje, vejo passar os eléctricos da carreira 28 cheios de gente e tão vazios. Não os reconheço e já não vale a pena. A paixão apagou-se para sempre. 


¹  Eléctricos da série 736–745, cognominados de "caixotes" pela carroçaria de aspecto angular. Circularam entre 1947/48 e 1985.  


● References

Wikipedia | "Carris"
Wikipedia | "Carrispt-PT
Wikipedia | "J. G. Brill"
Wikipedia | "Tram/Streetcar"
Wikipedia | "Lisboa"
Wikipedia | "Lisboapt-PT   
Carris | "Eléctrico Remodelado" 1995
Kiepe Elektrik | "Straßenbahnen für CARRIS Lisboa"
João de Azevedo | "Lisboa – 125 Anos sobre Carris" 1998
B. R. King and J. H. Price | "The Tramways of Portugal" 1995

1 m → 3.281 ft 
1 kW → 1,360 hp (metric/PS)
1 kW → 1,341 hp
1 hp (metric/PS) → 0,986 hp
1 cm³ → 0.0610237 ci
1 m³ → 35.315 cu ft


● Suggested reading on the popular streetcars of Lisboa. 


Lisboa – 125 Anos sobre Carris

A rare specialist book covering the popular streetcars of Lisboa. Authored by João de Azevedo and published in 1998 by Roma Editora with the special support of Carris, Câmara Municipal de Lisboa and Associação Portuguesa dos Amigos dos Caminhos de Ferro, this "Lisboa – 125 Anos sobre Carris" begins with a due contextualization of streetcars operation in Lisboa. Then, the author describes the network, the routes and all streetcar models, including useful timelines. The book ends with a brief description of the depots and a useful glossary. This paperback book with 156 pages is mainly illustrated with black and white images showing the vehicles in their urban environment. "Lisboa – 125 Anos sobre Carris" is an essential work for the enthusiast interested in the Portuguese context. Preface by Manuel Margarido Tão. ●

Um raro livro especializado sobre os populares eléctricos de Lisboa. Com autoria de João de Azevedo e publicado em 1998 pela Roma Editora com o apoio especial de Carris, Câmara Municipal de Lisboa e Associação Portuguesa dos Amigos dos Caminhos de Ferro, este "Lisboa – 125 Anos sobre Carris" começa com a devida contextualização da operação de eléctricos em Lisboa. De seguida, o autor descreve a rede, as rotas e todos os modelos de eléctricos, incluindo úteis cronologias. O livro termina com uma breve descrição dos depósitos e um útil glossário. Este livro de capa mole com 156 páginas é ilustrado principalmente com imagens a preto e branco mostrando os veículos no seu ambiente urbano. "Lisboa – 125 Anos sobre Carris" é uma obra essencial para o entusiasta interessado no contexto português. Prefácio de Manuel Margarido Tão. ●

João de Azevedo – "Lisboa – 125 Anos sobre Carris" – Roma Editora, 1998 (PT-PT) – ISBN 972-8490-01-1

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